quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

As melhores músicas que eu ouvi em 2011


   Eu sou daquelas pessoas que ouvem uma música e a associam logo com o momento em que a estão ouvindo. No ano de 2011 escutei muita música excelente enquanto dirigia e sempre havia alguém no banco do lado. É impressionante como não consigo ouvir algumas músicas sem lembrar dessas pessoas com quem conversava (ainda que elas não se lembrem). Estas são as melhores canções que conheci neste ano e os meus companheiros musicais:



1. Chinese Translation, M. Ward
    Essa música é o máximo! Me lembra minha tia Bete e nossas discussões existenciais enquanto eu ia deixá-la em casa.







2. Don't carry it all, The Decemberists
    É pro Fabrício, meu melhor amigo e maior crítico.




3. Mykonos, Fleet Foxes
    Meu pai gosta muito dessa música! Ofereço a ele.




4. The Gardener, The Tallest Man on Earth
    Esse cara, Kristian Mattson, canta com a alma! Me lembra aquela vez que fui à beira-mar com a Tayana.




5. Crystalised, The XX
    Esse techno é pro meu amigo Ruan. Acho que ele aprecia.




6. Tout Seul, Didier Sustrac
    A Claudiana nem gosta muito dessa música, mas eu sim. É uma bossa nova em língua francesa que me condenou a lembrar dela sempre que escutá-la.







7. Set Fire To The Rain, Adele
    Eu apresentei uma das grandes revelações desse ano, Adele, a meu primo Isaac e creio que ele gostou. Me lembra algumas vezes que saímos à noite em Acaraú pra comprar comida pra família.




8. Little Secrets, Passion Pit
    A minha amada prima Ana Eliza gosta muito desse som! Deus a abençoe.




9. Me ama, Diante do Trono
    Esse ano não foi particularmente bom para a música evangélica. Mas o novo CD do Diante do Trono tem boas faixas. Essa é a preferida da minha mãe











domingo, 25 de dezembro de 2011

O Papai Noel Robô Assassino, as religiões e o meu presente de Natal pra você


         Um dos meus desenhos animados preferidos é Futurama, criado pelos produtores de Os Simpsons e ambientado no ano 3000, quando pessoas comem lasers e cérebros autônomos saltitam felizes pelas ruas. Quase todos os episódios são muito divertidos e contêm piadas orientadas ao público geek.
       Pois bem. Um dos episódios é uma estória de Natal (e as pessoas não o chamam mais de Christmas e sim de X’mas - você percebe a sutileza?). A certa altura, o protagonista Fry, que nasceu no século XX e ficou congelado por mil anos até ser reanimado, é aconselhado a não sair de casa, pois Papai Noel está à solta. Explica-se: em 2801, uma empresa havia criado um robô para julgar os humanos como bonzinhos ou malvados e distribuir presentes de acordo com seus méritos. Mas algo saiu errado: nenhum dos humanos é exatamente bonzinho, e o presente que Papai Noel dá a eles é invariavelmente decepar suas cabeças e enfiar em seus pescoços presentes bizarros de Natal.


    Com esse adorável enredo não muito politicamente correto, os escritores do episódio tocaram num ponto-chave da fé cristã. De acordo com o Cristianismo, ninguém é tão bom quanto deveria ser, e se recebemos outra coisa que não julgamento, é só porque ganhamos um excelente presente de Natal.
      Falando em Natal, aqui vai o meu presente pra você: algumas linhas de substância para que você pare de dizer aquela bobagem de que todas as religiões dizem basicamente a mesma coisa. Não dizem. Bem, é verdade que todas elas concordam em pelo menos um assunto:
     Há algo de errado conosco humanos. Não somos tão bons quanto deveríamos.
Mas a partir deste ponto a religião de Cristo diverge colossalmente das outras. Se você for adepto do mormonismo, do islamismo ou da religião-que-castra-meninas-da-Somália, terá um ideal de Bem e acreditará que será recompensado de acordo com seus atos. Você sabe que faz coisas más, mas também sabe que pratica boas ações e espera que de alguma forma, ao se guiar pela sua religião, uma coisa acabe compensando a outra. É tudo uma espécie de barganha moral, uma crença do tipo Papai-Noel: se comporte direitinho, pratique mais coisas boas do que coisas más, que no final aquilo contrabalança isto e você é bem recompensado.
      Pois o Cristianismo insiste em que uma boa ação não compensa uma má ação mais do que uma esmola anula um crime.
     Enquanto Buda e Maomé rogavam a todos que não se esquecessem de seus ensinamentos, Jesus dizia que não há ensinamento no mundo que possa anular um pecado. Ele apontou para si mesmo, e não para os seus ensinamentos, como meio de salvação. É por isso que o Cristianismo é indissociável da pessoa de Cristo de um modo que nenhuma grande religião jamais será (e é por isso, se querem saber, que vejo todo o sentido em comemorar o seu nascimento).
   No Cristianismo, não somos salvos graças ao que fazemos, e sim apesar do que fazemos. Claro que ficamos agradecidos pelo favor recebido e somos então convocados a fazer o Bem para agradar a Deus. Isso muda completamente a forma com que fazemos nossas escolhas, e então somos salvos do que fazemos.
 Que deste dia você possa selecionar alguns minutos para fazer algo que nunca faz: refletir sobre obras boas, obras más, Papai Noel, Jesus Cristo e sobre como é que vai estar a sua situação se você tiver mesmo aquela coisinha que chamam de alma.
  No mais, um excelente Natal pra você!!!


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

O relógio de Sheldon Cooper


   Amigos, postaram no facebook a imagem de um relógio creditado a Sheldon Cooper, o nerd arrogante da sensacional série The Big Bang Theory. Em vez de simples algarismos, cada hora do dia é representada por uma conta:


    Aqui vai a explicação para cada cálculo:
    - tan(45°), isto é, a tangente de 45 graus, é 1 porque uma inclinação de 45 graus determina uma altura 1,0 vez maior que a largura que ela origina;
    - A raiz quadrada de 4 é 2, pois o número que, multiplicado por si mesmo, resulta em 4 é 2.
    - Round(π) é o maior número inteiro menor que pi. Como pi é aproximadamente 3,14, round(π) = 3.
    - ln(e4) é o logaritmo natural (isto é, na base e, o número neperiano), do próprio número neperiano elevado a 4. Por definição, ln(e4) = 4.
    - Se x² =3² + 4², x = 25 = 5. Os números 3,4,5 podem ser lados de um triângulo retângulo, pelo que constituem o terno pitagórico primitivo mais simples. Atualização: O numero -5 também é solução da equação para x. O leitor do relógio terá que admitir que está buscando uma solução positiva.
    - 3! (lê-se 3 fatorial) é o produto de todos os números inteiros de 3 até 1. Ocorre que 3! = 3x2x1 = 6. Este produto merece um símbolo porque o número de modos de arranjar três objetos A, B e C é 3! = 6 (ABC, ACB, BAC, BCA, CAB, CBA - 6 possibilidades).
    - 6.999999..., onde o 9 se repete infinitamente, é igual a 7, pois 0.99999.. = 1, como explica o quadro abaixo.


    - 16/2 é, se não nos engana o raciocínio, igual a 8.
    - 3*3, se nos lembramos da tabuada, é igual a 9.
    - Acredito que [g] queira dizer o maior número menor que a aceleração da gravidade em m/s², que é 9,8. Essa representação para o número 10 é péssima, pois ao contrário de todos os outros números do relógio, a aceleração da gravidade tem uma dimensão e pode assumir qualquer valor, dependendo da unidade escolhida. Sheldon Cooper não aprovaria isto.
     - 0b é uma representação muito obscura do número 11, na chamada numeração de base zero. Nela, o primeiro algarismo é sempre 0 e os números 10 e 11 recebem dígitos especiais, geralmente as letras a e b, respectivamente. Assim, 11 fica 0b. Não conheço nenhuma aplicação séria para a numeração de base zero.
     - (1100) é o número 12 em código binário, aquele em que cada algarismo representa um múltiplo duma potência de 2. O quadro abaixo explica direitinho esse negócio.

   Este não é o melhor relógio nerd. Pesquisando "Math clock" no Google Imagens aparecem vários modelos que se baseiam na mesma ideia. Mas o meu preferido é este:
    As luzes são de LEDs que acendem ou apagam de acordo com a representação binária dos números (1 ou 0). O relógio da figura acima, por exemplo, marca 13:05:19. Você é capaz de dizer por quê?

sábado, 26 de novembro de 2011

Sobre o orgulho de ser nordestino e outras bobagens

   Quando o caso Mayara Petruso estourou (lembra-se dele?) eu tive a ideia de desenvolver um joguinho em Flash que teria por nome Afogue o Nordestino. O objetivo do jogador seria analisar um grupo de pessoas, parcialmente imersas num reservatório com água, e afogar apenas as que fossem nordestinas, pressionando sua cabeça para baixo. A minha ideia era ridicularizar a pregação de Mayara, segundo quem os nordestinos deveriam ser afogados pelos muito superiores paulistas. É o tipo de estupidez que só por ser mencionada deveria provocar gargalhadas, mas que algumas pessoas insistem em levar a sério.

  O meu projeto não foi levado adiante por dois motivos: Um, os meus conhecimentos de programação em ActionScript estavam longe de ser suficientes para construir um joguinho; dois, eu acreditava que aquele surto de idiotice passaria logo, e assim o jogo ficaria desatualizado. Pois não é que, volta e meia, leio em redes sociais comentários de pessoas que dizem o mesmo tipo de bobagem sobre os nordestinos?
  Essas pobres pessoas se dizem orgulhosas por terem nascido em São Paulo ou no Sul do país. Entendamos: geralmente os vaidosos se orgulham por algum talento que têm ou por algum objetivo que conquistaram. Se isso não é muito elegante, pelo menos pode ser justo. Muitas vezes a arrogância é o prêmio que as pessoas dão a si mesmas por terem alcançado um alvo. Mas algumas pessoas, que com toda probabilidade não têm talento nenhum, não conquistaram nada e têm tanto senso crítico quanto as Bananas de Pijama, se orgulham de ter nascido neste ou naquele lugar, como se fosse possível imaginar algum mérito nisso. Para mim parece evidente que as pessoas que se orgulham de ter nascido no Sudeste – ou no Nordeste, ou na Polinésia – não têm absolutamente nenhum motivo para se orgulhar, coitadas.
  Quando algum comentário preconceituoso aparece nas redes sociais, geralmente os nordestinos se ofendem e acabam tentando combater estupidez com estupidez: dizem que se orgulham de ser nordestinos. Quase sempre põem-se a citar personalidades nordestinas (Chico Anysio, Ariano Suassuna e Rachel de Queiroz são muito lembrados*) que poderiam confirmar o que na verdade não precisa de confirmação: podem nascer pessoas talentosas no Nordeste do Brasil. Outro argumento bastante invocado é a participação dos cearenses no vestibular do ITA: nos últimos cinco anos, o índice de aprovação do Ceará foi 5,2%, contra 0,3% do Rio Grande do Sul, por exemplo. Ainda que isso mostrasse que os cearenses são mais espertos (certamente não mostra), é o silogismo “Eu sou cearense/Você não é/Os cearenses são mais espertos/Eu sou melhor que você” é bastante ingênuo...
  Por outro lado, eu entendo quando alguém diz que gosta de ser nordestino (e talvez esse seja o significado da frase “Eu tenho orgulho de ser nordestino”). Mostra que se identifica com a cultura do Nordeste que, verdade seja dita, é alegre e rica. Eu entendo este sentimento, e até compartilho dele. O que me custa compreender é que ainda hoje haja gente que acredita mesmo que alguns humanos são inferiores por causa da sua certidão de nascimento. Ultimamente tenho me policiado para não acabar pensando que essas pessoas, elas sim, são inferiores em relação ao restante da humanidade.


 * Alguns nordestinos muito bem-sucedidos em suas respectivas áreas que merecem minha admiração: no Direito, Clóvis Beviláqua; na Música Clássica, Alberto Nepomuceno; na poesia, João Cabral de Melo Neto; na Matemática, Maurício Peixoto (já ouviu falar do teorema de Peixoto?), na Física, Dalton Girão Ellery Barroso (o homem que “decifrou a bomba atômica”). Nunca vi ninguém mencionar essas pessoas em discussões na Internet...


quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Você vai rir: A conversa de uma senhora crente com o meu pai

Meu pai estava conversando com uma senhora assembleiana cuja identidade será mantida em sigilo. O tema da discussão era a imensa canalha de pastores evangélicos da televisão.
Meu pai: O Silas Malafaia às vezes fala bobagem e é muito debochado. Mas pelo menos ele é uma voz que representa o povo evangélico no Brasil.
Dona Anonimilda: Mas ele também prega heresias. Uma vez ouvi ele dizer que no sexo dentro do casamento vale tudo!!
Eu: Bem... a Bíblia não dá muitas diretrizes para a prática do sexo... se for dentro do casamento, tá valendo!*...
Dona Anonimilda: Ah, não! Eu tenho pra mim que a boca da gente é só pra louvar a Deus!
Meu pai: [Risos]
Eu: [Risos arrebatados]

*Sobre a licitude de usos alternativos para a boca e outras cavidades, recomendo o artigo disponível em www.monergismo.com/textos/sexualidade/sex-oral_truthabout.pdf

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A Física e o fim do mundo

  Fui convidado pelo meu amigo Elias Bruno a participar de um programa de rádio do qual ele é um dos colaboradores. O programa se chama Novas Ondas e é realizado pela Rádio Universitária, 107.9. É muito bem feito e com certeza eu serei um ouvinte assíduo.
  O programa de estreia, que foi ao ar às 14:30 de hoje, 21 de novembro, tinha como tema o Fim do Mundo e contou com a participação de teólogos, psicólogos e estudantes da UFC. Segue a minha contribuição à discussão, com comentários adicionais.
  Primeiro: dificilmente o ser humano causaria a destruição do planeta. Somos muito pequenos e a Terra, muito grande. O aquecimento global, por exemplo, poderia fazer um estrago razoável, mas causar o fim da vida, não. Aliás, ainda não é consenso que o aquecimento do globo seja antropogênico.
  Segundo: destruição da Terra mesmo, só por um fator externo. A colisão de um meteoro de tamanho comparável ao do planeta seria muito perigosa, mas é extremamente improvável. A última foi há 65 milhões de anos e causou o desaparecimento dos dinossauros. Um dado interessante: a frequência média com que detritos interplanetários atingem a atmosfera terrestre é inversamente proporcional ao quadrado do diâmetro do projétil. Meteoritos do tamanho do que causou a cratera do Arizona, de 100 metros de diâmetro, são esperados apenas uma vez a cada 10000 anos. A próxima “estrela cadente” das dimensões da que incidiu sobre Sudbury, no Canadá (de 10.000 metros de diâmetro) só virá daqui a 100 milhões de anos.



  Terceiro e último: não haverá nenhuma colisão séria em 2012. Um meteoro perigoso já teria sido detectado pelo menos já na década passada e hoje seria visto a olho nu*. Estamos seguros por enquanto.

*Mais informações tranquilizadoras estão disponíveis no site da NASA, www.nasa.gov. 

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Assista a animação e descubra o versículo!

  Com grande orgulho apresentamos a primeira animação do blog Calebante, desenvolvida com a mais moderna tecnologia digital.
  Trata-se de uma adivinha: você é convidado a descobrir a que versículo bíblico corresponde o filminho. Dica: o verso se encontra numa das cartas do apóstolo Paulo aos cristãos de Corinto.
  É só clicar na figura abaixo e assistir o magnífico curta. Você estará concorrendo a um prêmio-surpresa (se morar na grande Fortaleza).
  Boa sorte!

quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Sabe o planeta Netuno? Está a 4 bilhões de quilômetros e nós conhecemos a composição da sua atmosfera. Se você não acha isso maravilhoso, eu tenho pena de você.

  O filósofo francês Auguste Comte (aquele do positivismo) disse, num dia gelado de 1835, que a humanidade nunca saberia qualquer coisa sobre a atmosfera dos corpos celestes ou sobre sua constituição interna. Estaríamos, neste aspecto, condenados à nefasta prisão da ignorância.
  Comte estava prestes a ser desmentido: nos próximos anos o astrônomo inglês William Huggins construiria espectroscópios e telescópios, o que lhe permitiria analisar a luz proveniente de corpos celestes e daí obter informações sobre eles. Em 1869, Huggins usou a teoria de Doppler para determinar a velocidade radial da estrela Sirius a partir do espectro que ela emitia (isto mesmo: a partir da luz que a estrela emitia, ele calculou a sua velocidade, numa época em que nem o xampu tinha sido inventado! Como pode haver gente que não se interesse por isso?! As pessoas deveriam conversar sobre isso o dia inteiro!)
  Estou em dificuldades em imaginar o que posso escrever aqui sem molestar o leitor. Vejamos:
  1 – Os átomos de cada elemento químico têm um número determinado de elétrons, distribuídos de determinada maneira em “camadas”. Por exemplo: o sódio (Na) tem 11 elétrons, 2 dos quais estão na primeira camada, de energia mais baixa, 8 ocupam a segunda camada e 1 elétron fica na terceira, de maior energia. Cada camada é dividida em subcamadas ou níveis, nomeados s, p, d, f, g...
  2 – Os elétrons podem absorver luz de certas cores, mas de outras não. O que determina as cores que eles podem absorver é a diferença entre as energias dos níveis eletrônicos. Exemplo: um elétron num átomo de sódio pode pular do nível 3s para o 3p se absorver uma energia de 2,1 eV. Isso corresponde à absorção de luz amarela.


  3 – Os elétrons vão e voltam aos níveis eletrônicos. Quando voltam, emitem luz da cor da que haviam absorvido. Um espectroscópio pode separar essa luz em cores para serem observadas em uma tela. Esta figura é o espectro do sódio (note a cor amarela):

  4 – É possível examinar o espectro da luz solar refletida por um planeta específico. As cores ausentes são pistas que indicam que estão presentes na sua atmosfera elementos ou compostos que absorvem aquelas cores. Por exemplo, se cores correspondentes ao metano estão presentes no espectro do Sol mas ausentes no espectro do planeta, isto indica que a atmosfera do planeta contém metano, que absorveu a cor que falta. A análise da intensidade de cada linha do espectro fornece informações sobre a concentração de cada substância. Contemple agora toda a glória do espectro de Netuno:




  Comentário importante 1: Claro que eu escrevi aqui numa linguagem bem grosseira, pensando naquelas pobres pessoas que têm dificuldade em enxergar beleza na Ciência. Naturalmente, essa linguagem pode ser gravemente ofensiva a qualquer estudioso mais sério.
  Comentário importante 2: Se eu fosse você, não usaria esse texto na sua feira de Ciências. Tenho excelentes referências, terei prazer em indicá-las a quem se interessar.



sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Sobre a hipocrisia do texto anterior Ou: Uma crítica de mim por eu mesmo

(queira ver o post anterior, sobre o martírio; este texto é um acréscimo àquele)
  Na última vez que meu espírito, perturbado, se decepcionou com Deus, eu estava numa fila de supermercado (sim, às vezes eu me decepciono com Ele; mas na maioria das vezes a crise é breve e a gente acaba fazendo as pazes logo).
  Pois bem: na última vez que me decepcionei com Deus estava, para ser mais específico, na fila das Lojas Americanas para comprar o meu lanche da tarde. Uma mulher muito velha e pobre estava tentando fazer compras, mas talvez tenha errado nos cálculos: não tinha dinheiro suficiente para levar tudo e precisou devolver quase metade do que tinha posto no carrinho. Senti uma pena, uma pena!...
  Ela foi embora levando duas ou três sacolinhas de plástico; muitas outras pessoas passaram pelo caixa e pagaram seus itens; chegou a minha vez e eu paguei com o cartão de crédito; sentei num banquinho para saborear o meu lanche – e durante todo esse tempo estava pensando na velhinha e em toda a fome que há no mundo, culpando a Deus pela injustiça social e tantas outras misérias humanas.
  Quando decidi parar de pensar nisso para apreciar melhor minha merenda, uma questão óbvia me veio à mente: por que é que eu não tinha feito nada para ajudar a velhinha? Aliás, por que é que eu nunca fazia nada? Talvez pudesse ter ajudado a mulher, mas em vez disso estava ali comendo batata Pringles e tomando Coca-cola (vide ilustração)

  Então concluí que talvez eu não fosse tão altruísta quanto imaginava. Olhando para a questão agora não posso deixar de obter a mesma conclusão. Todas as vezes em que ajudei alguém (falando em termos práticos, isto é, em dinheiro) a quantidade nunca era tão substancial a ponto de me fazer falta. Nunca era uma “oferta sacrificial”, para usar o jargão evangélico. Nunca abri mão de algo que desejava muito para favorecer a outra pessoa mais necessitada. A minha última oferta para Missões Estaduais foi vergonhosa. Gozo de perfeita saúde, mas nunca doei medula óssea. Apesar de freqüentemente passar em frente ao Hemoce, nunca doei sangue. Em vez disso eu fico teorizando sobre a inação de Deus enquanto me empanturro de carboidrato e ácido fosfórico.
  E aí eu fico escrevendo no blog essas coisas sobre sofrer pelo inimigo e o martírio dos santos e a Religião mais Excelente e blábláblá. Deus me tenha piedade.

  Comentário Importante 1: Não retiro nada do que escrevi no texto anterior. Não é só porque eu sou um hipócrita que você não deve dar atenção ao que eu digo.
  Comentário Importante 2: Eu não sou um hipócrita. Acredito mesmo no que prego, percebo que minhas palavras condenam a mim mesmo e estou disposto a reavaliar algumas prioridades. Tomei algumas resoluções a respeito disso, as quais pretendo compartilhar com os amigos mais próximos.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Primeiro post com conteúdo cristão: Você, crente, pode – e deve – ser um mártir. Por que nos esquecemos da bendita idéia do martírio?

  Os donatistas, membros de uma seita cristã do norte da África, eram tão obcecados com a idéia do martírio que abordavam estranhos pedindo-lhes que os matassem. Como os estranhos eram ameaçados de morte se não concordassem, o martírio era bem fácil para os donatistas.
  Uns dezesseis séculos já se passaram e agora talvez não haja cristão nesse mundo que simpatize com a idéia do martírio (o que é que dezesseis séculos não fazem!). Bem, eu acredito que, se Jesus não estimulou diretamente a prática do martírio, com certeza os seus ensinamentos trazem uma ideia que se aproxima bastante disto.
  Não é que Jesus tenha ensinado a amarmos o nosso semelhante sem esperar nada em troca. Confúcio e o rabino Hillel é que fizeram isso. Cristo foi muito mais longe: disse que deveríamos amar os nossos inimigos! Argumentou ele: “Se vocês só amarem os que lhes amam, qual é o prêmio que merecem? Ora, grande coisa! Até os deputados fazem isso!” (Mateus 5.46, paráfrase)
  Aguentar que lhe plantem a mão nos beiços talvez seja fácil – difícil é esperar pela segunda bofetada. Entregar seu celular ao assaltante é fácil – difícil é dizer “amigo, tenho algo aqui que vale mais!”, e deixar que ele leve também a sua bíblia. Acompanhar aquela sua tia resmungona até a casa dela é fácil – difícil é andar a segunda milha com aquele que lhe agride (vide ilustração).



  Sofrer pela fé é visto como algo nobre em diversas religiões, mas sofrer pelo inimigo – certamente a versão mais louca do martírio – é algo bem típico da religião de Cristo. Uma ideia tão pouco lucrativa que ninguém levaria a sério se Ele mesmo não tivesse se doado como exemplo: porque Ele nos amou quando ainda éramos inimigos.

  Que nós possamos enxergar o quanto estamos distantes da religião de Cristo e que paremos de reclamar quando sofremos por nós mesmos ou por aqueles que amamos – pois tínhamos que nos ocupar é de sofrer por nossos inimigos!

sábado, 15 de outubro de 2011

Primeiro post sobre física: A espetacular ilusão de ótica da Sala de Ames


Quando falei do blog à minha amiga Samara, ela perguntou, não sem tentar me induzir à resposta que queria ouvir:
 - Ah, um blog? E vai ter o quê, curiosidades?
Bem, não ia ter curiosidades, não até ela perguntar. Mas não sei como ainda não tinha pensado no mais óbvio: escrever sobre assuntos que me interessam, como física. Eis, então, a primeira postagem com uma curiosidade sobre física, dedicada à Samara. Como eu me lembro de uma vez em que ela disse que adorava ilusões de ótica (ou será que não foi ela? ou será que não era de ilusões de ótica que ela disse gostar? bem, agora não importa), gostaria de mostrar a vocês um fantástico dispositivo: a sala de Ames, concebida pelo oftalmologista americano Adelbert Ames em 1935.
Trata-se de uma sala de formato trapezoidal que é construída para criar uma ilusão de ótica para um observador que enxerga a sala por um pequeno orifício. Para o observador, ela parece uma sala convencional retangular, mas na verdade uma de suas paredes tem forma de trapézio, sendo que um dos seus cantos fica bem mais próximo do observador do que o outro. Desta maneira, um objeto colocado num dos lados da sala parece gigante, enquanto o outro parece minúsculo, mesmo que os objetos tenham tamanhos iguais. Na foto acima, uma alegre menininha se coloca nos dois cantos em uma sala de Ames.

Aqui está um esquema do funcionamento de uma sala de Ames (não lhe lembra suas aulas de ótica geométrica?)

Note que os ladrilhos do chão – que parecem quadrados, mas só parecem* – são fundamentais para o efeito. Aliás, nem as paredes nem o teto são necessários para criar a ilusão: um horizonte desenhado adequadamente é suficiente para forçar o cérebro a readaptar sua percepção de profundidade.

Este efeito tem sido usado até em grandes estúdios de filmagens! Na trilogia O Senhor dos Anéis, por exemplo, os hobbits parecem menores que os humanos graças a esse truque :-).
O vídeo abaixo ilustra de maneira dramática a vida numa sala de Ames. Não é incrivelmente convincente essa ilusão?

*Os ladrilhos parecem quadrados, mas não são. Isso até parece uma descrição da minha avó Chichica, que é bem menos quadrada do que aparenta (no sentido de careta, claro). A diferença é que os ladrilhos do chão não me enchem o saco perguntando por que é que eu não consigo arranjar uma namorada.


Primeiro post sobre música: Sérvios, coreanos, noruegueses e mexicanos, unidos por um mesmo - e brasileiríssimo - som

Bossa Nova Around the World: Esse cd foi a causa de esse blog ter emergido à existência.
Foi-me presenteado pela Claudiana, apesar de o aniversário ser dela: agora estou me perguntando como é que fui eu que acabei sendo presenteado.
Bem, eu gosto muito quando artistas estrangeiros se interessam pela cultura brasileira, me sinto como se estivessem a fazer uma homenagem a mim. 
Sabe quando toca aquela música que você adora na rádio e você, emocionado, põe no volume mais alto e fica tentando cantar? Você tem a música no seu MP3 e age como se nunca a tivesse ouvido antes! É que parece que aquela canção foi dedicada a você, já que ela lhe é tão cara. Pois então: é mais ou menos esse o sentimento que tenho quando ouço artistas estrangeiros cantando bossa nova.
Bossa Nova Around the World é uma reunião de 12 artistas de várias nacionalidades tocando a genuína música brasileira. Agradam-me especialmente: Jardin D'hiver, composta pelo israelita Keren Ann e aqui docemente interpretada por Bïa, franco-brasileira; Melancholisch Schön, do grupo alemão 2raumwohnung; Menina Moça, que começa com uma flauta de forró antes de seguir com uma batida de bossa e jazz, pelo trompetista sérvio - sérvio! - Dusko Goykovich; e Vakker Natt, que é uma versão em norueguês da tão célebre Corcovado interpretada por uma das principais vocalistas de jazz daquele país, Hilde Hafte.
O álbum é delicioso e quem gosta de bossa nova deve se sentir obrigado a conhecê-lo. Está disponível para download na rede, graças a Deus: o meu CD está arranhado e eu teria perdido quatro faixas não fosse isso. Claro que eu posso baixar para ouvir o álbum, já que eu paguei por ele (ou melhor, a Claudiana pagou); você está convidado a pagar por ele também, como nos mandam as regras de civilidade.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Primeiro post de 'humor' geek: Triste Aula de Cálculo

Não poderia deixar de postar aqui a tirinha que fiz para um site de humor geek de que gosto muito, o SpikedMath. Ele faz piada com jargões matemáticos e vida acadêmica, e é portanto bastante original. Eis a tirinha:




Atendendo a sugestões dos meus amigos Jônatas e Lídici, ponho aqui uma versão em português. A tirinha original, com erros de inglês e tudo, vocês podem ver aqui: http://spikedmath.com/451.html.

Começo, Estreia, Prelúdio

  Como disse há pouco à minha amiga Claudiana, que bom! que agora tenho um espaço para divulgar minhas opiniões.
  Conhecem a angústia de ter uma ideia tão forte (e às vezes tão negra) que parece não caber dentro de vocês, e que incomoda até que seja exposta ou compartilhada? Pois sim.
  Atenção! Aqui não há qualquer garantia de qualidade. Disse que as ideias incomodavam, que eram fortes e escuras, e não que eram boas. Já tive uma verruga genital com essas mesmas características, e posso garantir que ela não passaria por nenhum teste de qualidade*.
  Feitas essas primeiras observações, para mim absolutamente necessárias, tenho o prazer de convidá-los a ouvir minhas ponderações verruginosas. Acredito que é mais apropriado que o primeiro post seja algo positivo, então publicarei assim que algo bastante agradável me vier à mente. 
 Até lá!


*Naturalmente, isso foi há muito, muito tempo, quando ainda corria pelado pelas ruas quentes de Itapipoca. Desde lá, as verrugas pararam de me atormentar, ao contrário dos pensamentos.