terça-feira, 27 de agosto de 2013

Em defesa da novela das nove / Vamos falar mais de responsabilidades individuais? Vamoooos!

A coisa neste blog funciona assim: quando muita gente está compartilhando uma idéia de que eu discordo, mas não conseguiria contra-argumentar com poucas palavras, eu uso o meu próprio espaço. Até queria escrever com mais freqüência, mas por enquanto isso é tudo o que eu posso fazer.
    A mania da vez é esculhambar a novela das nove no facebook. Estão dizendo que ensina as pessoas a fazer o que não presta, que é uma armadilha de Satanás para corromper as boas famílias brasileiras, e aquela coisa toda. Não só acredito que os que pensam assim estão errados, como também acredito que apóiam seus argumentos em idéias perigosas.
    Para os que odeiam novelas e estão desinformados (porque o conjunto dos que odeiam e o conjunto dos que estão por dentro, surpreendentemente, se interseccionam), eu explico a trama que mais apanha: Uma mulher se oferece para ajudar um casal de amigos gays como barriga de aluguel. A inseminação não dá certo depois de várias tentativas, e ela resolve tentar o método tradicional com um deles, que é bissexual. Parece que vai se envolver emocionalmente, criando uma situação tão inusitada que eu espero acompanhar a estória até o fim para ver no que é que vai dar. Que pena que em vez de apreciar uma trama original, coisa raríssima ultimamente, as pessoas reclamem dos personagens sem caráter!
    Existem mesmo coisas imorais na novela. É importante dizer que a criação de uma criança por um casal gay ou por um trio amoroso ainda está na categoria da experimentação, já que ninguém tem certeza dos efeitos psicológicos que isso traria a ela. Submeter a criação de uma pessoa a experimentações é coisa do nível de Pablo Capilé. Também é terrível que uma mãe não tenha o direito de se relacionar com o filho que gerou e a quem se afeiçoou. Acredito que a personagem vá sofrer um bocado quando tiver que se separar dele.
    Mas por que condenar a novela?! Por que condenar o autor que escreveu uma ficção e se valeu de personagens imorais? Alguém conhece uma única estória boa que não tenha gente fazendo coisa errada?
    O que dizem é que o “povo sem educação” pode aprender a fazer coisa errada quando ouve estórias de gente fazendo coisa errada. Bem, eu me ofendo quando sugerem que eu posso me tornar uma pessoa menos correta ao assistir uma novela na televisão.  Se alguém se acha tão infuenciável, eu recomendo que só leia estorinhas infantis. Ou talvez nem isso, já que pode se inspirar em certos personagens e criar apetite por velhinhas indefesas...     Talvez devesse se restringir aos salmos da Bíblia. Melhor não: há alguns que mencionam bebês sendo esmagados contra a pedra!
    Fazendo esforço para ser mais compreensivo, eu entendo a irritação com obras que tratam atitudes condenáveis como se fossem corretas, ou até belas (este nem sempre é o caso da novela das nove). Mas eu insisto que os espectadores têm o discernimento necessário para julgar o que veem. É relativamente fácil saber o que é certo e o que é errado. O difícil é escolher o certo! Se um humano peca, é muito mais por decisão individual do que por erro de interpretação!
    A ideia de que as pessoas são suscetíveis demais, essa sim deveria ser associada a Satã, porque não dá a ênfase devida às responsabilidades dos indivíduos. Trata as pessoas como seres com pouca ou nenhuma capacidade de escolha, que não têm alternativa de fazer a coisa certa se a coisa errada estiver em moda.
    Vocês viram o que foi dito sobre o caso Pesseghini? Deixou-se de considerar o crime como individual e pôs-se culpa nos videogames, na sociedade da violência, e blablablá. Diluiu-se a responsabilidade sobre o ato bárbaro que o rapaz cometeu e procurou-se um bode expiatório genérico. 
    Culpar os videogames pelo assassinato que uma pessoa cometeu ou a Globo pelos casais que têm problemas de relacionamento é ignorar que a culpa pelos crimes e pecados é individual e intransferível. Essa ideia só pode ser coisa do demônio.

Sobre o aborto
    É verdade que alguns valores das pessoas sem religião são totalmente opostos aos de nós cristãos. Essa mesma novela das nove fez outro dia propaganda favorável ao aborto. Como todas as cenas que querem ensinar alguma coisa, essa foi sofrível. Usou até dados mentirosos para justificar a sua tese. Mas em casos como esse é muito melhor nós aproveitarmos que a questão está em evidência para discutir os valores do que recomendar às pessoas que parem de ouvir isso ou aquilo. A melhor solução nunca passa pela censura, mas pelo diálogo, com a confiança de que as pessoas são inteligentes e têm capacidade de escolha.

Uma recomendação
    O cinema anda incrivelmente chato. Já é a trigésima vez que se faz uma releitura do Super-homem, e a coisa é tão pouco original que se dá muita relevância até à novidade de que ele não usa mais aquela cueca vermelha. Sabem onde estão a criatividade e a originalidade? Na TV, em especial nas séries americanas. Para quem gosta de uma trama inteligente e sabe que não vai se deixar levar por personagens de ficção fazendo coisa errada, minha recomendação é Breaking Bad, da AMC. É a estória de um homem correto e bom pai de família que fica com câncer, faz escolhas erradas e acaba se tornando um de-mô-nio. O episódio do último domingo me fez estremecer com o que o protagonista Walter White foi capaz. Eu me diverti muito, e não me tornei nem um pouquinho menos moral.