quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Uma broca redonda cria um buraco redondo na parede, e uma broca quadrada... também! Que broca criaria um buraco quadrado na parede?

   Se ainda não entendeu a questão geométrica, repare a animação que eu fiz quando conhecia bem o significado da expressão "tempo livre":

   Fica claro que um triângulo, um pentágono ou qualquer polígono convexo cria um círculo quando gira em torno do seu centro. Haverá alguma forma que crie um quadrado quando gira?
   Sim!
   Há várias, sendo a mais conhecida delas o triângulo de Reuleaux, chamado assim por causa do seu descobridor Franz Reuleaux, um engenheiro alemão. Eis um triângulo de Reuleaux criando um furo quadrado:

    Se você ficou se perguntando como seria assistir a um triângulo de Reuleaux se movendo enquanto ouve a música Ameno, do projeto musical Era, pode clicar aqui para ouvir a música e voltar para essa página para assistir a animação novamente.
    Você já deve ter usado um lápis fabricado de acordo com esse formato. É o meu formato para lápis preferido e facilmente eu explico: um lápis cilíndrico é confortável, mas vive rolando da carteira; o lápis hexagonal é o segundo mais comum, porque aproveita bem o espaço quando guardado na embalagem [veja Abelhas sabem Cálculo Diferencial], mas suas arestas angulosas o tornam desconfortável. O meu lápis preferido não rola na carteira, não é desconfortável e não desperdiça espaço. Além disso, adere bem à mão e cria oportunidades para conversas interessantes:
    - Que lápis legal! Onde você comprou? 
    - Não lembro e não me importo. Mas você sabia que esse formato é o triângulo de Reuleaux, batizado em nome de um engenheiro alemão?...
   Com uma leve adaptação, o triângulo de Reuleaux se torna a forma perfeita para um rotor em um motor Wankel, um motor de combustão rotativo que dispensa o uso de pistões tradicionais. 




    Outras aplicações do triângulo de Reuleaux incluem as rodas de uma bicicleta para hipsters e uma moeda da Botsuana. 
    Para terminar, mais um enigma geométrico: você sabe qual a figura em que uma ampliação tem o mesmo efeito de uma rotação? O círculo você sabe que não é: sobre um círculo a rotação não tem efeito algum, mas a ampliação o torna maior (!). Pois a figura a que me refiro pode ser girada ou ampliada, que dá no mesmo. É tema para outro post.



terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Quando a nossa homofobia atrapalha nossa pregação / Um padre falou e os evangélicos aplaudiram / Por que 1Co 6.10 é um versículo ruim

     Nunca tinha visto tantos crentes comentando de forma tão positiva as palavras de um padre como quando aquele sacerdote católico que vocês viram no Youtube teve a “ousadia” de dizer que homossexualismo é pecado e os gays vão todos pro inferno. Um amigo meu postou no Facebook o vídeo e alguém comentou: “Meu Deus! Um padre convertido!”




     Vejam só: a comentarista deduziu que o padre podia ser considerado evangélico só porque ele disse que os gays vão para o inferno. É que nós evangélicos somos frequentemente mais conhecidos pela nossa homofobia (e já eu explico porque estou usando esse termo) do que por um discurso claro do Evangelho, e isso é muito ruim. É ruim para nós e é pior ainda para o Evangelho.
     Deixe-me dar um exemplo para ilustrar meu ponto: Agenor, caso real mas nome fictício, se sente muito à vontade para falar mal dos gays na frente de sua família evangélica. Agenor não é crente, mas acredita que descobrindo um “inimigo em comum” pode ganhar alguma aprovação entre os evangélicos. Sabe-se que Agenor tem uma vida sexual agitadíssima; conta-se que usa drogas leves. E Agenor se sente perfeitamente apto para julgar e condenar os homossexuais, dizendo que tem nojo deles e entende a ordenança levítica do apedrejamento.
      Tendo convivido bastante com evangélicos, Agenor deveria saber que perante Deus não está numa posição melhor do que qualquer bicha louca. Se ele ainda não entendeu isso, é porque os crentes que conhece estão falhando miseravelmente na missão de pregar o Evangelho a ele, se é que já tentaram.
       Recapitulando: o Evangelho diz que todos – todos! - carecemos da glória de Deus. Temos uma dívida para com Ele. Também diz, e nisso é compatível com o senso comum, que os nossos méritos não anulam os nossos pecados, do mesmo modo que uma boa ação não pode compensar um crime. Ainda que tenhamos um estoque infinito de heterossexualidade, nós precisamos de perdão. Entendeu, Agenor?
       A homofobia de nós evangélicos consiste em que não tratamos os gays como a todos os outros pecadores. Para nós eles constituem uma espécie à parte de pecadores. Nós fazemos toda a questão de dizer por aí que homossexualismo é pecado, é pecado, é pecado, e nenhuma de dizer que maledicência também é. Se um padre falasse contra a maledicência, ou a ira, ou a falta de perdão, nós não compartilharíamos no Facebook e não o confundiríamos com um evangélico.
        Outro dia recebi um folheto de uma igreja batista que resolveu evangelizar com um versículo ruim: 1 Coríntios 6.10, que é uma pequeno rol de quem não entra no reino dos céus. Esse versículo é ruim para a Evangelização porque pode dar a impressão de que quem não se enquadra na lista negra está muito bem, obrigado. Acontece que a lista não é exaustiva e muita gente não se encontra em nenhuma daquelas categorias mas ainda assim está perdida. Toda pessoa (eu, você, Agenor e Padre Augusto) carece da glória de Deus e se não for graciosamente perdoada, estará separada dEle no outro mundo. Essa é a mensagem clara do Evangelho, que a Igreja insiste em obscurecer com sua mania de atormentar mais os pecadores que julga piores.