terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Quando a nossa homofobia atrapalha nossa pregação / Um padre falou e os evangélicos aplaudiram / Por que 1Co 6.10 é um versículo ruim

     Nunca tinha visto tantos crentes comentando de forma tão positiva as palavras de um padre como quando aquele sacerdote católico que vocês viram no Youtube teve a “ousadia” de dizer que homossexualismo é pecado e os gays vão todos pro inferno. Um amigo meu postou no Facebook o vídeo e alguém comentou: “Meu Deus! Um padre convertido!”




     Vejam só: a comentarista deduziu que o padre podia ser considerado evangélico só porque ele disse que os gays vão para o inferno. É que nós evangélicos somos frequentemente mais conhecidos pela nossa homofobia (e já eu explico porque estou usando esse termo) do que por um discurso claro do Evangelho, e isso é muito ruim. É ruim para nós e é pior ainda para o Evangelho.
     Deixe-me dar um exemplo para ilustrar meu ponto: Agenor, caso real mas nome fictício, se sente muito à vontade para falar mal dos gays na frente de sua família evangélica. Agenor não é crente, mas acredita que descobrindo um “inimigo em comum” pode ganhar alguma aprovação entre os evangélicos. Sabe-se que Agenor tem uma vida sexual agitadíssima; conta-se que usa drogas leves. E Agenor se sente perfeitamente apto para julgar e condenar os homossexuais, dizendo que tem nojo deles e entende a ordenança levítica do apedrejamento.
      Tendo convivido bastante com evangélicos, Agenor deveria saber que perante Deus não está numa posição melhor do que qualquer bicha louca. Se ele ainda não entendeu isso, é porque os crentes que conhece estão falhando miseravelmente na missão de pregar o Evangelho a ele, se é que já tentaram.
       Recapitulando: o Evangelho diz que todos – todos! - carecemos da glória de Deus. Temos uma dívida para com Ele. Também diz, e nisso é compatível com o senso comum, que os nossos méritos não anulam os nossos pecados, do mesmo modo que uma boa ação não pode compensar um crime. Ainda que tenhamos um estoque infinito de heterossexualidade, nós precisamos de perdão. Entendeu, Agenor?
       A homofobia de nós evangélicos consiste em que não tratamos os gays como a todos os outros pecadores. Para nós eles constituem uma espécie à parte de pecadores. Nós fazemos toda a questão de dizer por aí que homossexualismo é pecado, é pecado, é pecado, e nenhuma de dizer que maledicência também é. Se um padre falasse contra a maledicência, ou a ira, ou a falta de perdão, nós não compartilharíamos no Facebook e não o confundiríamos com um evangélico.
        Outro dia recebi um folheto de uma igreja batista que resolveu evangelizar com um versículo ruim: 1 Coríntios 6.10, que é uma pequeno rol de quem não entra no reino dos céus. Esse versículo é ruim para a Evangelização porque pode dar a impressão de que quem não se enquadra na lista negra está muito bem, obrigado. Acontece que a lista não é exaustiva e muita gente não se encontra em nenhuma daquelas categorias mas ainda assim está perdida. Toda pessoa (eu, você, Agenor e Padre Augusto) carece da glória de Deus e se não for graciosamente perdoada, estará separada dEle no outro mundo. Essa é a mensagem clara do Evangelho, que a Igreja insiste em obscurecer com sua mania de atormentar mais os pecadores que julga piores.

Um comentário:

  1. Interessante o seu texto, Calebante, rsrsrs!

    Achei válida sua observação do seja 'homofobia' no seu ponto de vista. Muitas vezes nos empenhamos mesmo em determinados erros em detrimentos de outros, isso não é bom.

    Por outro lado, certa vez na faculdade, eu disse assim: "Se para você ser homofóbico é ser contra o homossexualismo e sua naturalidade na sociedade, então eu sou homofóbica, rsrsrs", seria outro ponto de vista, é preciso saber conhecê-lo também.

    Cheguei a ser entrevistada sobre o homossexualismo (o entrevistador era um homossexual), e acho que o momento foi propício para esclarecer ao grupo entrevistador que há alguns cristãos (como eu) que não condenam SÓ o homossexualismo mas todo e qualquer pecado expressamente claro nas Sagradas Escrituras.

    No seu texto só discordo que 1 Coríntios 6.10 tenha sido um versículo "ruim" para evangelização. Lembre-se que quando Filipe foi evangelizar o Eunuco, ele não escolheu por onde começar, mas ele pregou o Evangelho dentro do texto que o Eunuco estava lendo na hora. Talvez o folheto que vc recebeu tenha sido infeliz na explicação do texto, mas o texto foi bem escolhido como qualquer outra passagem da Escritura teria sido.

    Em Cristo,
    Anninha

    P.s: A entrevista que citei está nesse link: http://anninhabarros.wordpress.com/2010/03/20/entrevista-sobre-homossexualismo/

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