terça-feira, 18 de junho de 2013

Esses protestozinhos não me convencem / Muita coisa tem que mudar, e uma delas é o interesse exagerado do povo por essa brincadeira chamada futebol / Vocês se indignam com o governo? Eu me indigno com quem nunca percebe a própria culpa

    Enquanto acontecem em Fortaleza protestos que mudarão para sempre a face da cidade [atenção – ironia detectada], quatro estudantes cearenses se preparam para a 45ª Olimpíada Internacional de Química, que ocorre em Julho, em Moscou. Química, para quem não sabe, é uma das áreas do conhecimento indispensáveis para que a humanidade conseguisse aumentar a sua expectativa de vida em 20 anos no último meio século. Pois bem: aqueles jovens cearenses estão, dentro da sua faixa etária, entre as pessoas que mais sabem Química na superfície do planeta (!).
    E, no entanto, ninguém vai ficar sabendo desses estudantes.
    Eles não vão aparecer no Jornal Nacional.
    Eles não vão pedir música no Fantástico.
    E aqui talvez eu tenha conseguido conduzir o leitor a um ponto, fazendo-o pensar “É que a mídia no Brasil é terrível, não dá valor a quem realmente devia ser valorizado...”. Talvez o leitor tenha sido treinado para encontrar imediatamente um culpado sem nunca pensar que parte do problema se encontra nele próprio. Ora, a “mídia” só mostra o que interessa às pessoas, e a verdade é que o leitor está pouco se lixando para quem sabe Química ou para quem deixa de saber. Eu duvido que o leitor saiba enumerar 05 (cinco) cientistas brasileiros importantes – e eles existem! Não sabe. E não sabe porque não tem interesse, já que informação está na Internet para quem quiser ver.
    O interesse do povo é em futebol. Eu mesmo poderia enumerar muito mais que cinco jogadores de futebol, eu que nunca entendi por que exatamente a habilidade de controlar um bola com os pés é particularmente interessante.
    Por que estou dizendo tudo isso e comparando as coisas dessa maneira? Porque parece que uma das insatisfações dos manifestantes que vão às ruas é os gastos com a Copa do Mundo, porque “a educação devia ser prioridade”, e coisa e tal. Ora, mas é a coisa mais natural do mundo que o país em que as pessoas idolatram pessoas-que-manobram-bem-objetos-esféricos-com-os-pés seja a sede de uma Copa do Mundo. Ninguém chiou quando soube que o evento seria realizado aqui, mesmo sabendo dos gastos gigantescos e mesmo sabendo que a educação e a saúde no País estiveram desde sempre em estado de calamidade.
    Muita gente tem comemorado que o povo finalmente teria percebido como o Governo gasta mal o dinheiro público. Mas isso não me comove tanto. O que eu gostaria mesmo era de ver as pessoas compreendendo que a sua sede por circo é metade do problema.

Algumas palavras sobre a Copa
Não, eu não sou contra a realização da Copa no Brasil. Porque eu reconheço como algo que o povo quis – e se não quisesse teria protestado antes. Até penso em assistir a algum jogo. Eu amo tanto o meu país (e falo sério mesmo) que gosto muito de vê-lo ganhar qualquer vantagem, mesmo que seja uma brincadeirinha num estádio superfaturado.

Algumas palavras sobre as manifestações

Estou falando de Fortaleza porque o movimento das outras cidades eu só conheço pelos jornais. Mas por aqui parece que ninguém sabe ao certo contra o quê está protestando afinal. No Facebook se espalham convites sugerindo que qualquer causa é boa o suficiente, o importante é se envolver. Talvez um único pensamento seja comum à maioria dos manifestantes: o pensamento de que se pode desrespeitar a lei e o direito de ir e vir das pessoas se a causa for boa o bastante. É mais um sintoma daquilo que tem me indignado, o talento que os cidadãos brasileiros têm de nunca chamarem a responsabilidade para si.

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