A
Câmara dos Deputados acabou de aprovar um plano que prevê a aplicação de 10% do
PIB na educação, até o ano de 2020. O projeto deve seguir para o Senado. É
claro que essa loucura não vai ser aprovada. Se fosse, quebraria o Estado, como
disse o ministro Guido Mantega. Mas eu aproveito o momento para dizer que ainda que fosse viável aumentar tanto os
investimentos em Educação, não seria desejável se o principal plano fosse
aumentar o salário dos professores da rede pública. De maneira mais
prática, eu quero dizer que os professores não estão merecendo salários
melhores porque de maneira geral estão fugindo de suas responsabilidades.
Até
pouco tempo eu defendia com todas as forças que os professores deveriam ganhar
o máximo possível, ou a educação nunca melhoraria. Mas eu sou do tipo que se
deixa convencer pelos fatos, e os fatos são que desde 1995 o salário deles
quintuplicou e a melhoria na qualidade da Educação foi praticamente zero. O
pior é que parece cada vez mais politicamente incorreto criticar os professores
públicos. Parece até que eles pretendem formar uma daquelas categorias que
nunca se pode censurar. Agora já são duas: a dos gays e a dos professores.
Quer
dizer que a educação é um fiasco e os professores não têm nada a ver com isso?
O salário dos professores quintuplica, a educação continua um fiasco, e os
professores não têm nada a ver com isso? Não podem ser responsabilizados? Ora
bolas!
Quando
era governador do estado de São Paulo, José Serra criou um programa de promoção
de professores por mérito e qualificação. O que fez o sindicado dos professores
do Estado? Foi à greve. (Aliás, professor adora uma boa greve, não?). Livros
chegaram a ser queimados em praça pública. Tudo porque os professores não
aceitavam que colegas mais competentes recebessem mais. Sobretudo, não
aceitavam ser avaliados. Ora, não há dúvida alguma: um professor não aceita ser
avaliado porque é um professor incompetente. Se o professor se esconde na
escuridão, é que ele ama mais as trevas do que a luz porque suas obras são más.
Conheço
muitos professores, alguns bem jovens, que caíram num triste estado de
malemolência. Faz tempo que não se preocupam mais com a qualidade do serviço
que oferecem. Se os alunos não fazem questão de aprender, pregam eles, não vale
à pena fazer questão de ensinar. Há uma multidão gigantesca de educadores que
adotam essa filosofia de ofício. Pois a Educação no País está entregue nas mãos
desta gente, e aumentar o seu salário dez vezes não vai mudar em nada a
situação.
O que nossos educadores precisam fazer
urgentemente é mudar a postura e assumir que a culpa pelo desinteresse dos
alunos também é sua. Isso mesmo! Os
professores precisam se convencer de que uma de suas atribuições é precisamente
estimular os seus alunos a aprender. Aliás, eu acredito que um professor que
apresenta sua matéria de maneira desinteressante faz um estrago muito maior do
que aquele que peca apenas por falta de conhecimento. A aversão a determinada
matéria é muito mais difícil de corrigir do que meia dúzia de conceitos
equivocados.
Acabo
de ler na Revista Escola o seguinte depoimento de um professor de matemática: “O
bom professor é tão apaixonado por Matemática que consegue fazer com que os
alunos se apaixonem também.” É isso aí. Bons
professores conquistam os seus alunos para o que têm a ensinar. É claro que
isso não é fácil, mas é um ideal a ser perseguido. Enquanto os educadores
não chamarem para si a responsabilidade de despertar em seus alunos a vontade
de aprender, a educação não vai melhorar uma gota, ainda que o Brasil venda a
Amazônia para arrecadar dinheiro para o Ensino.
Os
políticos se pelam de medo de fazer isso, mas não há outra
saída que não a implementação de um sistema que avalie constantemente os
professores. Um sistema que recompense o mérito e puna a incompetência. Estão
recebendo dinheiro do contribuinte? Pois têm que mostrar serviço de qualidade.
Têm que se especializar, têm que estudar. Não sabem a matéria que se propõem a
ensinar? Pois que vão embalar produtos no mercado - é um trabalho honesto e
necessário. Não sabem passar adiante o seu conhecimento? Têm mais é que ir pro
olho da rua. Não são capazes de estimular 40% dos seus alunos a aprender? -
Rua.
Agora,
a Pergunta Mais Frequentemente Formulada: Com que autoridade falas estas
coisas? Tu tens pelo menos alguma experiência em sala de aula?
Não,
não tenho experiência nenhuma em sala de aula. Também não tenho experiência
nenhuma em enfermagem, mas me sinto perfeitamente apto para dizer que um
enfermeiro que injeta sopa na veia de uma idosa é um enfermeiro incompetente,
pois lhe falta a característica essencial da atenção. Com a mesma autoridade eu
repito: se um professor não consegue fazer com que uma fração razoável dos seus
alunos se interesse pelo que ele ensina, ele é um professor incompetente, pois
lhe falta a característica essencial da paixão.